DERECHOS HUMANOS

“O pior castigo para o latifundiário é a vergonha mundial”

Filha de camponês desaparecido narra sua história

Com Saudi López Gutiérrez
“O pior castigo para o latifundiário é a vergonha mundial”
Filha de camponês desaparecido narra sua história
Saudi López Gutiérrez é a filha mais velha de José Antonio López Lara, 46 anos, desaparecido desde o dia 29 de abril de 2012, enquanto pescava nas imediações da Fazenda Paso Aguán, que se encontrava, à época, sob a guarda dos seguranças do latifundiário e produtor de dendê, Miguel Facussé Barjum.
A jovem disse para A Rel ter certeza de que os restos mortais exumados, no dia 25 de abril, por antropólogos peritos forenses guatemaltecos, pertencem ao seu pai.
 
Ela também apontou o seu dedo acusador contra os capangas que faziam a segurança das plantações de dendê que, em repetidas ocasiões, tinham ameaçado López Lara com “desaparecê-lo”.
-Como ocorreram os fatos no dia 29 de abril do ano passado?
-Meu pai era agricultor, mas adorava pescar. Nesse dia saiu bem cedo para ir pescar e não voltou mais. Começamos a procurá-lo em todos os lugares que frequentava, até que encontramos pessoas que o tinham visto.
Segundo elas, meu pai tinha decidido ir a outro lugar de pesca, margeando as plantações do senhor Miguel Facussé, onde existem dezenas de guardas de segurança.  
Por volta das 10 da manhã, alguns camponeses do lugar dizem ter escutado 4 tiros, justamente na região onde foram descobertos os restos mortais que serão exumados.  
-Por quanto tempo vocês continuaram procurando o seu pai?
-Foram dois meses de busca, mas os guardas de Facussé só nos deixavam entrar em alguns lotes da fazenda, e nos proibiam de nos aproximarmos dos outros lotes que, muito provavelmente, eram parte de seu cemitério clandestino.  
 
Isso foi até julho de 2012, quando o corpo enterrado de Gregorio Chávez foi encontrado e os camponeses organizados recuperaram a fazenda Paso Aguán. Foi quando pudemos intensificar a busca. 
 
Foi formada uma comissão encarregada da busca pelos camponeses desaparecidos e as pessoas nos ajudaram em nossa busca pela verdade.
Depois de três falsos alarmes, no dia 3 de abril passado, nos avisaram que tinham encontrado um corpo. Para mim foi um alívio, porque sinto em meu coração que é o meu pai e que por fim vamos poder nos despedir dele. O coração não mente.  
-O seu pai havia tido problemas com os guardas de segurança?
-Os guardas de segurança viviam ameaçando e assediando o meu pai. Eles lhe diziam que já não queriam vê-lo ali e que se voltasse a passar por essa região, eles fariam ele “se perder”, e cumpriram a promessa. Meu pai morreu apenas por estar buscando levar mais comida para os seus filhos. 
 
-Vocês estão responsabilizando diretamente os guardas de segurança pelo que aconteceu?
-Não temos a menor dúvida de que forameles que mataram o meu pai. É uma gente sem alma.  
 
-Vocês vão exigir justiça?
-Queremos justiça, mas o pior castigo para esta gente, para este senhor latifundiário, é se sentar em frente da televisão e ver que o seu nome e a sua reputação caíram ao chão. 
 
E para quê? Somente para se apropriarem mais ainda das terras que são dos camponeses?
 
A justiça virá como acréscimo.

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Fotos: Giorgio Trucchi