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Um gigante insaciável

A transnacional brasileira JBS, líder mundial em processamento de carne, não para de engordar, adquirindo empresas em todo o planeta. Mas ao mesmo tempo que cresce, demite centenas de trabalhadores, e as condições de trabalho em suas unidades são denunciadas por sindicatos e autoridades.
A última pérola do colar foi a compra, nesta semana, dos negócios avícolas da norte-americana Tyson Foods no Brasil e no México.
 
A operação, por um total de 575 milhões de dólares, será realizada através da Pilgrim’s Pride, no México, e da JBS Foods no Brasil, ambas controladas pelo Grupo.
 
Com estas compras, os lucros da JBS aumentariam globalmente em bilhões de dólares anuais (650 milhões adicionais no México e 350 milhões no Brasil), segundo dados da própria empresa.
 
Em 2013, o Grupo registrou benefícios por quase 1 bilhão de reais, 28,9 por cento a mais que o ano anterior.
 
A maior parte desse lucro, a JBS conseguiu dentro do Mercosul, onde os negócios da empresa cresceram mais de 43 %, mas também em grandes mercados como os Estados Unidos, Canadá ou Austrália.
 
Wesley Batista, presidente mundial da JBS, acredita que os benefícios de sua empresa continuarão crescendo, produto, em grande medida, de um aumento exponencial de suas exportações, que em 2013 estiveram em torno dos 12 bilhões de dólares, 20% a mais que no ano anterior.
 
Lucros para alguns x perdas para a maioria dos trabalhadores e trabalhadoras
 
“A JBS tem uma plataforma de produção estabelecida estrategicamente nas regiões mais competitivas do mundo. Isso nos leva a crer que as decisões estratégicas que tomamos vão continuar a impulsionar os nossos resultados, gerando valor para nossos acionistas, desenvolvimento para a sociedade e praticidade e conveniência para os consumidores”, disse o empresário.
 
Que “os acionistas” sairão vitoriosos com o resultado dos negócios do Grupo, disso não há dúvidas. Já os benefícios que obteriam “a sociedade” e “os consumidores esses são muito mais duvidosos”.
 
E bem mais duvidosos ainda seriam os benefícios dos milhares de trabalhadores da própria transnacional. Este mesmo mês de julho, a JBS demitiu 60 funcionários de um de seus frigoríficos no Brasil, no município de Barretos. Com isso, o Sindicato de Trabalhadores nas Indústrias da Alimentação da cidadeteme que a onda de demissões continue nas próximas semanas.
 
Melquíades de Araújo, presidente da Federação de Trabalhadores nas Indústrias da Alimentação de São Paulo (FETIASP), disse que em agosto três unidades da transnacional poderão fechar no interior do estado, deixando na rua 12.000 trabalhadores e afetando indiretamente umas 8.000 pessoas.
 
A JBS e o MPT
 
A este panorama temos que somar as péssimas condições de trabalho nos frigoríficos, que custaram à JBS várias sanções do Ministério Público do Trabalho (MPT), incluindo o fechamento provisório de algumas unidades por descumprimento de normas como a NR 36.
 
A JBS é, por sua vez, uma das poucas empresas brasileiras do setor de carnes e a única das grandes companhias do país que ainda não assinou um convênio coletivo com seus trabalhadores.
 
Na última negociação tripartite, a direção local da empresa chegou a querer tirar de seus trabalhadores alguns dos benefícios básicos, como o auxílio médico, e negando-se a reajustar salários em função da inflação, alegando “problemas de competitividade” que não condizem com seus exorbitantes lucros.
 
Tanto é assim que, apesar dos tais gigantescos lucros anunciados pelos diretores da empresa como o resultado de “boas políticas estratégicas”, a JBS insiste em bater na porta do Estado pedindo subvenções e exceções de impostos.  
 
O pior de tudo é que o Estado autoriza essas subvenções, sem exigir em troca nenhum tipo de contrapartida.
 

“A JBS tem se transformado num oligopólio mundial, com a utilização de dinheiro público como contribuição financeira, através do financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES)”, escrevia para A Rel, em junho passado, Siderlei de Oliveira, presidente da CONTAC.