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McDonald’s, uma companhia retrógrada

Retrógrada: Característica emblemática da empresa dos “arcos dourados” e seus cúmplices

McDonald’s, uma companhia retrógrada
O qualificativo não é gratuito. Retrógrado, de acordo com o dicionário, é quem anda para trás ou retrocede. Característica emblemática para a empresa dos “arcos dourados” e seus cúmplices.
Em janeiro de 1961, a Junta de Salário Mínimo da Califórnia (EUA) estabeleceu o “salário mínimo para a mulher solteira que trabalha”. A comissão encarregada do estudo era composta por cinco mulheres, todas casadas e nenhuma trabalhava. O que significava, para esta comissão, um salário decente para a mulher solteira?

 

  1. Ganhar o bastante para poder alugar um quarto, dividindo o aluguel com mais uma companheira (até o ano anterior, era dividindo o aluguel com mais duas companheiras).

  2. Comprar um rádio. No caso da tevê, ela poderia assisti-la na sala de estar da pensão ou em uma praça pública.

  3. O direito de ir ao cinema 32 vezes por ano, determinando quantas vezes para os cinemas caros e quantas para os baratos.
  4. Comprar o jornal 5 vezes por semana (o exemplar dos domingos é tão volumoso que dá para ler até a terça-feira).
  5. Lavar a roupa em uma lavanderia, menos a roupa íntima, porque isto não é o correto para uma senhorita.
  6. Comprar 27 pares de meias, seis sutiãs, quatro pares de sapatos, quatro calcinhas e duas anáguas por ano.
  7. Para chicletes, doces e contribuições para a igreja, era reconhecido o direito de gastar 24 dólares por ano.

 

52 anos mais tarde, McDonald’s, em parceria com a financeira Visa, criou a página na Internet Practical Money Skills (Medidas práticas para administrar o dinheiro) onde aconselha os seus empregados a ter “sucesso financeiro” com os salários que recebem e que muito se assemelha ao critério daquelas senhoras. O primeiro conselho que surge é o de buscar um segundo emprego. Na realidade, se o assessoramento fosse honesto, o conselho seria: procure outro emprego!
Vejamos como o McDonald’s planeja a vida de seus funcionários norte-americanos:
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O trabalhador ou a trabalhadora da McDonald’s, que certamente mora no Hawai ou em Miami – já terá notado que no item calefação (aquecimento)  temos valor zero – ganha 1.105 dólares mensais e que, a 7,89 dólares a hora, precisa fazer 35 horas semanais e trabalhar outras mais para obter o seu segundo salário de 995 dólares. De modo que sua jornada semanal aumenta, no mínimo, para 70 horas às quais se faz necessário incluir o tempo gasto em transporte, da sua casa até o primeiro trabalho, e deste até o segundo, e no retorno à casa.
O aluguel, estimado em 600 dólares mensais, não corresponde à realidade, já que o aluguel médio nos Estados Unidos no final de 2012 era estimado, praticamente coincidia, com o primeiro salário de 1.048 dólares. Portanto, sempre existirá a possibilidade de, como calculavam aquelas senhoras dos anos 60, o trabalhador ser obrigatoriamente solteiro e estar disposto a viver em cubículos.
Também seria importante ver que tipo de veículo consideram os assessores em seus cálculos. Tratando-se de uma bicicleta, esta está superavaliada pelo valor de 150 dólares para seus gastos (pagamento da parcela pela compra, manutenção, seguro e combustível), pois não acreditamos que se trate de um carro.  
Talvez o que mais revolte seja o item dos 20 dólares calculados para o seguro de saúde que, de acordo com vários analistas, são insuficientes para uma cobertura médica normal. Portanto, os trabalhadores da McDonald’s precisam que os seus seguros médicos sejam subvencionados. De um cálculo elementar, infere-se que estes subsídios, provenientes do dinheiro dos contribuintes, permitem que a McDonald’s pague salários miseráveis.
Dos 27 dólares diários, visíveis ao final da tabela, devem sair os gastos de vestimenta, lazer – neste item as senhoritas dos anos 60 eram mais levadas em consideração – gastos de estudos, supondo que a maioria dos trabalhadores desta empresa seja de estudantes, porém isto terá que ser ignorado se pensarmos que usam 70 horas por semana para trabalhar – e, por fim, os gastos em alimentação.
Alguém poderia pensar que seria possível comer no trabalho, mas quanto tempo a pessoa resistirá comendo diariamente hambúrguer e batata-frita?  Neste sentido, os trabalhadores brasileiros da McDonald’s obtiveram um avanço: Em março passado a Justiça do Trabalho condenou a empresa por ter implantado um sistema de horário variável (ver artigos relacionados) e porque não deixava que os seus empregados trouxessem sua própria comida de casa.
Basta! Chegou a hora da McDonald’s pagar salários dignos e de serem solidários com as mulheres e os homens que trabalham nesta empresa retrógrada, seja em qualquer parte do mundo onde se fizer presente. 
 
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