O agronegócio já é praticamente senhor do sul do Maranhão e, agora, quer ser o único senhor do Baixo Parnaíba
A sujeira do Agronegócio
O agronegócio já é praticamente senhor do sul do Maranhão e, agora, quer ser o único senhor do Baixo Parnaíba
O agronegócio já é praticamente senhor do sul do Maranhão e, agora, quer ser o único senhor do Baixo Parnaíba; aliás, ele é o senhor do Mato Grosso, de Goiás, de Tocantins, de Rondônia, de parte de Minas Gerais, de São Paulo, da Bahia e do Piauí.
O estado brasileiro acredita no e defende o agronegócio. É só pegar o recente caso da Liminar de Manutenção de Posse a favor do latifundiário José Carlos Nobre Monteiro, expedida no dia 15 de junho, pelo Dr. Celso Pinheiro Júnior, juiz da Comarca do município de Parnarama, estado do Maranhão. De fato é notório que grande parte da área em questão está constituída por terras devolutas ou pertencentes a ausentes e a desconhecidos, sendo ocupadas, há décadas, por posseiros.
A metade dos afluentes do rio Balsas está comprometida pela contaminação causada pelos agrotóxicos que são usados pelas propriedades que produzem soja na região conhecida como Gerais de Balsas.
Próximo à região da APA que protege as cabeceiras do rio Balsas, três produtores de soja foram autuados pelos órgãos de meio ambiente devido ao desmatamento indevido de vegetação nativa do cerrado; um deles teve que pagar mais de 100 mil reais. Provavelmente, para os órgãos ambientais, esse é um dinheiro bem-vindo, no entanto, para os plantadores de soja, tal valor não passa de um prejuízo pequeno em sua contabilidade.
Há pouco tempo foi instituída uma cooperativa para fiscalizar e prevenir prováveis crimes ambientais na área de entorno do parque estadual do Mirador, sul do Maranhão. Pródigos em assustarem pequenos agricultores, não são vistos com a mesma atitude frente aos monocultivos que pressionam o parque. Qual é a dificuldade para fiscalizarem o agronegócio?
Trabalharem para proteger o Parque Estadual do Mirador é um fato que se deve ao agronegócio. É a expansão contínua do agronegócio por novas áreas de cerrado o que confere a certeza de que haverá sempre trabalho para os defensores do parque. Então, faz-se crer que as áreas do parque e do seu entorno têm um dono e este dono é o agronegócio, quem usa o parque como garantia de um cenário futuro para si, jamais pensando na sociedade em geral.
Assim que as áreas de entorno estiverem tomadas em todos os sentidos, essa é a hora prevista para tirar um naco aqui, outro acolá. Poder para isso eles têm, é só pensar no que foi a revisão dos limites do parque em 2003 e no incentivo que vem dando a candidaturas que vão disputar as prefeituras dos municípios do entorno. Só Fortaleza dos Nogueiras tem 3 candidaturas ligadas ao agronegócio. Igual movimento vem sendo dado no Baixo Parnaíba, onde o agronegócio tem candidatura na cidade de Urbano Santo e, no estado do Mato Grosso, onde o governador é sojicultor.
O “ogro”negócio, o grande senhor
O agronegócio já é praticamente senhor do sul do Maranhão e, agora, quer ser o único senhor do Baixo Parnaíba; aliás, ele é o senhor do Mato Grosso, de Goiás, de Tocantins, de Rondônia, de parte de Minas Gerais, de São Paulo, da Bahia e do Piauí.
E, pela sua impressionante capacidade de ramificação e de influência, conseguiu se incrustar no centro do poder republicano, bem especificamente, no ministério da agricultura.
Afirmar que o agronegócio é o senhor de parte do Brasil tem a ver com os rumos que os sucessivos governos vêm dando em termos de incentivos para esse setor, tanto em relação a subsídios como em relação a investimentos na infraestrutura.
Agronegócio e agricultura familiar
O atual governo vai distribuir 25 bilhões de reais para o agronegócio, enquanto que para a agricultura familiar o valor é de 7 bilhões de reais.
Um valor baixo quando analisamos o papel desempenhado pela agricultura familiar que é, segundo o Padre Humberto em seu discurso para a plateia do seminário Internacional Bioma Cerrado, na cidade de Balsas, responsável pela produção de 70 por cento do feijão, 84 por cento da mandioca, 58 por cento dos suínos, 54 por cento da bovinocultura do leite, 49 por cento do milho e 40 por cento das aves e dos ovos.
Mesmo na produção de carne bovina, a pequena propriedade rural contribui com 62,3 por cento; enquanto a média propriedade rural com 26,4 por cento; o latifúndio com 11,2 por cento. A produção leiteira depende da pecuária familiar em 71,5 por cento. O latifúndio produz apenas 1,9 por cento do leite que bebemos.
Pelo lado da infraestrutura, o governo propõe o asfaltamento da BR-163, a famosa Cuiabá – Santarém, em parceria com a iniciativa privada, os sojicultores, é claro, que são os maiores interessados, onde deverão escoar os monocultivos do centro-oeste em direção ao porto da Cargill, situado na cidade de Santarém, baixo Amazonas.
Atravessando uma região que possui grandes extensões de mata virgem, a BR-163 traz dentro de si um paralelo com a rodovia Transamazônica: a ânsia pela ocupação da Amazônia, seja do seu território, seja de seus recursos naturais.
Quem já estiver por lá, sejam as comunidades tradicionais, sejam os povos indígenas, terá que conviver com os resultados imediatos da ocupação desordenada: a grilagem, a pistolagem e a destruição do meio ambiente.
De certo modo, a área de influência da BR-163 vai ser a interseção do pior que já existe no Mato Grosso e no Pará, estados onde viceja a mais recente onda de violência no meio rural, e que se apresentam como paraísos para o agronegócio.
Só em Mato Grosso, 6,2 por cento da população rural foram despejados de suas terras. Esse dado consta de pesquisa realizada pela CPT (Comissão Pastoral da Terra) sobre conflitos agrários, em 2003, e divulgada no começo de 2004. O que todos já sabem: o agronegócio provoca violência.
Dizer que as áreas por onde passa a BR-163 têm características de cerrado e de floresta amazônica serve para compreendermos que os destinos dos cerrados e das amazônias estão interligados.
Estamos acostumados a ver em mapas um bioma distante do outro, mas, na realidade, isso não existe. Um indígena já disse que “Quando um bioma se encontra com outro, eles não se separam como se vê no mapa”. O cerrado se espalha por 14 estados brasileiros e encosta ou se mistura com a Amazônia, a mata atlântica, a caatinga e a mata das araucárias.
Que diversidades surgem desses encontros?
Que saberes surgem desses encontros?
“Só um saber é capaz de dar conta dessa complexidade. E esse saber é o do caboclo”, defendeu Carlos Walter, professor da Universidade Federal Fluminense, no seminário de Balsas. Quer dizer: o destino dos cerrados e das amazônias estão selados pela biodiversidade e os povos tradicionais são os seus vigias e com eles e nas casas onde moram estão guardadas as combinações para se chegar aos segredos das florestas.
Só que esses saberes, porque não é só um saber, não conseguem fazer frente ao “ogro”negócio. “Antes era agri-festa, agri-alegria, agri-comunhão e agri-mutirão.
Hoje é agronegócio, agrotristeza, agrodestruição e agrosujeira” (disse uma agricultora de Nova Iorque). Esse “antes” era quando camponeses conviviam “…nas terras sem nenhum registro formal de propriedade, ao lado de fazendeiros que mantinham grandes áreas de pastagem, geralmente natural, para uma criação extensiva de gado” (Carlos Walter).
O “hoje” se refere à apropriação dos conhecimentos tradicionais por empresas privadas, à produção de alimentos para exportação, à destruição das culturas locais pela inserção de novos valores e à destruição do meio ambiente pelos agrotóxicos.
O avanҫo dos monocultivos
De um lado, expressões acabocladas. Do outro, o pensamento científico. Aí tem vinte anos. Ou mais. Os primeiros avisos que a monocultura da soja estava chegando datam de 1973. O Sr. Manoel, pequeno produtor de Riachão, lembra-se de um pedido de informações mandado pela secretaria de agricultura do Rio Grande do Sul. Passados sete anos, chega à região de Balsas.
Antes era vereador e presidente da câmara de Riachão. Hoje, presidente da associação de pequenos produtores rurais de Picos e vice-presidente do Sindicato Rural de Riachão. Outro dia, gente do senado, da agricultura chegou dizendo que Riachão está em primeiro lugar em área plantada de soja. Graças ao cerrado que é um cerrado bom. E Riachão já usou 76 por cento de sua área de cerrado para o plantio de soja.
Mesmo com os monocultivos avançando sobre os vários tipos de cerrado, os estados do Maranhão, Tocantins e Piauí conseguem apresentar extensas áreas de vegetação em bom estado de conservação.
Estaria aí o interesse na realização de obras como o ramal ferroviário que ligará Estreito a Balsas, a hidrelétrica de Estreito, bem como a hidrovia Araguaia-Tocantins: a ocupação do solo pela agricultura mecanizada e a utilização dos recursos hídricos para irrigação, transporte de grãos e geração de energia. Embargada por seus diversos problemas no estudo de impacto ambiental, a hidrovia volta à cena perambulando como um fantasma e assombra as populações dos rios Araguaia e Tocantins.
Quando a veremos ser enterrada?
Ilustración: lamula.pe