
O general Mourão começou a cair em desgraça com o Planalto quando suas declarações desastrosas dadas durante uma palestra no Centro de Preparação de Oficias da Reserva (CPOR), em Porto Alegre, em setembro passado, foram divulgadas por dois jornais de grande circulação.
Na ocasião, ele se referindo à destituição da presidente Dilma do cargo afirmou que «a vantagem da mudança seria o descarte da incompetência, má gestão e corrupção”. Nos slides que projetou para o público, há afirmações como: “Mudar é preciso” e «É nosso dever esclarecer a opinião pública, notadamente a juventude».
Para o presidente do Movimento de Justiça e Direitos Humanos, o gaúcho Jair Krischke, a postura do general Mourão é golpista.
“Há um grupo de militares que vem há algum tempo em um trabalho que eu chamo de conspiração. O Mourão não tem nada de dar palpite. Ele é militar, deve cumprir ordens. A comandante em chefe é a Dilma”, alfineta.
“O Aldo Rebelo está de parabéns. Sua atitude (de exonerar Mourão) foi fundamental, muitíssimo importante, nota 10.
Se fosse o Jaques Wagner (o ministro da Defesa), não tinha acontecido nada disso”, frisa.
Além de ter sido deslocado para um cargo burocrático, a queda do general Mourão veio permeada de simbolismo. Ele foi destituído pelo primeiro ministro da Defesa comunista.
Aldo é filiado ao Partido Comunista do Brasil (PC do B), o mesmo partido que teve 70 militantes brutalmente reprimidos e mortos na Guerrilha do Araguaia pelas forças de repressão lideradas pelo Exército, na primeira metade dos anos 1970.
“Por isso foi importante cortar as asas. As declarações dele são um perigo”, reforça. Krischke revela que o Comando Militar do Sul, sob as ordens de Mourão, também mandou imprimir convites para a solenidade em homenagem ao coronel torturador Carlos Alberto Brilhante Ustra, que faleceu recentemente, mas que acabaram não sendo distribuídos, segundo ele. “Ouvi essa informação hoje de manhã”, ressalta surpreso, ao saber que os convites não foram distribuídos.
Mas ele considera a resposta do governo tímida, frente à gravidade dos fatos. “É um sinal importante. Foi pelo menos uma resposta, mas acho muito pouco. O governo brasileiro deveria tomar uma posição em relação ao Ustra e aos demais torturadores. Tem de discutir o mérito. Tinha soltar uma nota explicativa e articular a sociedade (para responsabilizar os militares criminosos).
Diogo também é pessimista em relação ao general Edson Leal Pujol, que assume a função de Mourão, que foi transferido para o lugar do novo comandante. “Esse pessoal que vem do Haiti não é qualquer um, tanto é que o general Heleno quando voltou para o Brasil afrontou o Lula.” Pujol comandou a Força de Paz na Missão de Estabilização das Nações Unidas no Haiti (Minustah), entre março de 2013 e março de 2014.