Estamos aqui lutando por nossas terras e por uma educação escolar indígena diferenciada
Com a liderança Flauberth Guajajara,
Terra Indígena Pindaré
Terra Indígena Pindaré
A educação é um direito, mas um direito que tem que ser exercido
do nosso jeito
do nosso jeito
Estamos aqui lutando por nossas terras e por uma educação escolar indígena diferenciada
Foto: Lucía Iglesias
Com o lema “sem terra não há educação”, os professores indígenas fizeram uma manifestação e caminhada até o Palácio do Planalto para entregarem à presidenta Dilma um manifesto exigindo uma educação escolar indígena de qualidade, específica e diferenciada. Também buscam pressionar para que se respeitem e cumpram as obrigações impostas pela Constituição. Durante a caminhada, A Rel entrevistou o Flauberth Guajajara, professor dos Povos Guajajara, Terra Indígena Pindaré Maranhão.
-Flauberth, o que você está sentindo neste momento?
-A sensação é de ação, de ir à luta, porque a nossa situação tem que melhorar. Estamos lutando porque não há interesse do governo de avançar com os nossos direitos.
Não há uma atenção justa à questão indígena, que não é nada boa atualmente no Brasil.
-Aonde vocês irão agora?
-Nós estamos indo para o Planalto, protocolar um documento direcionado à Presidência da República, referente à educação e também fazer a exigência das retomadas das demarcações e desintrusões das terras indígenas.
-Qual é o teor do manifesto que vocês irão apresentar à presidenta Dilma?
-O manifesto está principalmente focado na área da educação, onde a gente sugere e exige, ao mesmo tempo, um sistema próprio para a educação escolar indígena, no qual haja autonomia financeira, curricular, administrativa e política.
Porque hoje o que o governo apresenta para a gente é um modelo de sistema que não serve para nós. Pois ele está totalmente construído para as escolas não-indígenas. E acaba sendo imposto para que as comunidades indígenas trabalhem dentro do mesmo sistema. Isso para nós não pode ser válido, porque queremos ter o direito garantido e executado de trabalhar as nossas próprias culturas, idiomas e tradições dentro de nossas comunidades.
-A data de hoje tem a ver com a reeleição e o início do novo mandato da presidenta Dilma?
-Pode ter e não ter exatamente. Tem, porque uma vez que a gente também possa ter apoiado a sua reeleição, é certo que a presidenta Dilma também se manifestou por meio de uma carta dizendo que nada na Constituição Federal seria mudado referente aos direitos dos povos indígenas.
Então, estamos indo cobrar o que foi dito por ela. Cobrar e exigir não só a palavra dela, mas ações efetivas para que a Constituição seja cumprida.
A pressão do agronegócio
Um novo período de governo e uma nova esperança?
-Como vocês analisam os primeiros quatro anos de governo da presidenta Dilma?
-Não houve quase nada de avanços, as mesas de diálogo não foram amplas, o governo resistiu em receber os povos indígenas.
Nas poucas vezes que sentamos para dialogar, conseguimos fechar apenas algumas pautas de negociações, mas não adiantou em quase nada, porque essas negociações posteriormente foram descumpridas pelo próprio governo.
-Por que você acha que foram descumpridas?
-Acreditamos que foram descumpridas pela pressão do agronegócio, mas também por haver um enorme desinteresse do governo em consertar ou trabalhar a nossa situação.
Não é pela pressão do agronegócio que o governo deve cruzar os braços e não fazer nada. Com ou sem pressão, o governo tem que dizer: “Eu sou governo, eu estou aqui e tenho que respeitar e cumprir as minhas obrigações impostas pela Constituição”.
Sem terra não há educação
E sem educação não há direitos
-E por que a questão da educação está tão vinculada à questão da terra?
-Porque sem terra não há educação. Além de lutarmos por garantir as nossas terras tradicionais, também queremos os nossos direitos para desenvolver uma educação específica e diferenciada.
Porque esses direitos estão garantidos apenas no papel, na prática não conseguimos autonomia nenhuma.
-Qual é a sua formação como professor?
-Sou formado em pedagogia. Aliás, por sinal, a maioria dos indígenas que hoje têm uma formação, também a buscaram por si só.
Porque não há um incentivo do governo em oferecer universidade para os povos indígenas, e acabamos tendo que buscar os recursos sozinhos, tirando do próprio bolso, como no meu caso.
-Você tem mais alguma coisa a nos dizer?
-Eu quero dizer que a nossa luta não vai parar. Continuaremos lutando por uma educação, por uma saúde, pelo direito aos nossos territórios tradicionais, pela garantia de uma sobrevivência justa, sem conflitos.
Porque não estamos lutando, nem buscando brigas e inimigos. Porém, iremos também reagir à medida que as agressões se tornem mais intensas, porque temos o direito de nos defendermos dos ataques e de nos manifestarmos.
A educação é um direito, mas um direito que tem que ser exercido do nosso jeito. Estamos hoje aqui lutando por uma educação escolar indígena de qualidade, específica e diferenciada.